sábado, 21 de janeiro de 2012

A primeira vez que eu o vi, me lembro muito bem, ele cantarolava distraidamente a melodia que eu tanto conhecia e adorava. E em meio aos seus assovios e murmuradas, encontrei o ritmo e me encaixei em sua música como quem entra em uma corda em movimento e começa a pular como se estivesse ali o tempo todo. “Seus olhos e seus olhares milhares de tentações. Meninas são tão mulheres, seus truques e confusões…” Despertando de seus devaneios, ele piscou repetidas vezes até encontrar meus olhos. Sorrimos. Sem perder o rumo da letra, continuamos o dueto tal qual começara: ele assoviando e eu cantando. “Se espalham pelos pêlos, boca e cabelo; peitos, poses e apelos. Me agarram pelas pernas, certas mulheres como você me levam sempre onde querem…” E o que seria o refrão, tornou-se uma conversa. A princípio tímida, mas que ao longo dos minutos encontramos uma confiança incrível em fazer piadas e até soltar risos espontâneos.

Vinte anos depois eu ainda sabia aquela música de cor. Eu tinha o refrão grudado à minha mente. E, de súbito, me deu uma vontade de cantar. A letra veio à minha garganta como implorasse para sair. Queria ser expulsa de mim. Me joguei na cama e, sorrindo sem motivo, me estiquei toda. “Garotos não resistem aos seus mistérios; Garotos nunca dizem não”. E parei, esperando apenas o silêncio. “Garotos como eu sempre tão espertos, perto de uma mulher são só garotos…” A voz masculina que eu adorava apareceu como um sonho tornando-se realidade. O rosto um pouco mais enrugado que outrora parecia o mesmo para mim. Os olhos tinham a mesma magia. E era incrível como meu coração ainda disparava ao sentir sua barba roçando meu pescoço. Depois de vinte anos juntos eu ainda sentia cada parte do meu corpo implorar por ele. Acho que é isso que chamam de amor.

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